sexta-feira, maio 05, 2006

N. Ilo & R. Laa - One More Day


















A noite, supostamente longa e descançada encurtou-se rápidamente com o som ensurdecedor do despertador que toca cada vez mais alto. Os olhos ainda fechados e a cabeça a tomar consciência da situação fazem esticar um braço sobre a mesa-de-cabeçeira até ao despertador que acabou por fazer silêncio. O corpo rola pela cama ate ficar virado para cima e as pernas movimentaram-se até os lençois deixarem de cobrir o corpo que despertava lentamente. Os pensamentos que surgiram durante a noite ganharam forma ao acordar e tornaram-se mais intensos parecendo reais e crueis. Os olhos molhados escorrem o rosto quando o corpo se senta pela cama vagarosamente para tentar destinguir o real do irreal. Depois de breves segundos de plena consciencia pouca diferença essa distinção fazia. A respiração forçada e o rosto que se reflete no espelho em frente á cama realçam a dureza do que parecia ter sido uma grande noite. Os pensamentos que surgiam eram cada vez mais e perturbadores, não dando tempo para a razão falar. O corpo mole arrastava-se a caminho da casa de banho. {…} O tempo parecia não passar mas já estava na hora de apanhar os transportes para o trabalho. Sem tomar o pequeno-almoço arromou a correr o almoço, um livro e outras coisas dentro da mala preta comprida de alsas e saiu de casa. Na paragem esperava-se pacientemente por um autocarro que parecia não querer vir e surgia um novo pensamento de aflição só de pensar na hipotese de chegar atrasado ao trabalho. Ia contra os seus principios. A fila enorme que se formava fazia desesperadamente tardar mais ainda esse atrazo. Indeciso a ponderar varias hipoteses a resposta era nula. Quando do nada surge um autocarro meio cheio de gente mas que ainda parecia dar para os que estavam a sua espera. Em frente o transito que se fazia notar era tanto que chegou a ponderar a hipotese de ir parte do percurso a pé. Dentro do transporte a paciência já não era muita e o calor começava por sufocar adaptando-se aos olhares perturbadores de quem não tinha mais nada que fazer. Discretamente levando a mão ao bolso do lado direito das calças tirou um telemovel bastante fino sem teclas e leu a mensagem que tinha recebido minutos depois de acordar. Era uma mensagem de bons dias. E o dia parecia já estar a começar mal. {…} Na ultima paragem dirigiu-se para apanhar o segundo transporte que saia do cais segundos depois. Ao levar novamente a mão ao bolso para tirar o telemovel que lhe permitia ver as horas reparara que estava na hora de sair um barco. Com esperança de o conseguir apanhar visto adiantar as horas cerca de um minuto ou dois foi a correr e passou o passe magnético num aparelho de identificação automatico que fez um clique e permitiu a passagem até ao barco. Ao passar o passe nesse pequeno aparelho já se ouvia o alarme e o barulho da cela a fechar sobre rodas de ferro e já ia a meio do fecho. Quando acabou de passar a cela por uma questão minima de segundos é que começou a sentir o ar que guardava nos pulmões que não fora utilizado, o que deixava algum desconforto fisico e respiratorio, o ar parecia arder quando puxado para dentro. Depois sentou-se encostado a um banco do barco ao pe da janela no primeiro piso do lado esquerdo ao pé das escadas que dava acesso a esse piso. Só passado alguns minutos é que a respiração voltou ao normal. {…} Quando o barco encostou do outro lado do rio ao cais levantou-se e desceu as escadas e foi ate ao lado direito, o lado que dava acesso á saida do barco. Sempre a controlar os minutos que passavam a tentar fazer calculos de cabeça sobre o tempo que lhe restava para chegar a horas os pensamentos sobre a noite que tivera ainda o deixavam mais aturdoado. A caminho do terceiro e ultimo transporte. Aquele. A única esperança que lhe restava era depositada com toda a sua fé em si e correu com as forças que tinha levando atraz do ombro a mala que trazia, descendo freneticamente dois degraus de cada vez e controlando com o olhar onde pisava desviando-se também das pessoas que se dirigiam na sua direcção. Teve a sensação de ouvir o metro chegar sabendo conscientemente que aquele não iria esperar. Então correu mais ainda e ao mesmo tempo que tirava da bolsa que trazia á cintura também de cor preta a carteira que tinha o passe. Colocou então o passe em frente ao leitor do chip e a porta que permitia o acesso abriu para os lados. O aviso sonoro de partida do metro já se ouvia e mal começara a descer as escadas. Depois o segundo aviso, o de fecho das portas. E sem parar acabou de descer as escadas e dirigiu-se logo á primeira entrada enquanto as portas já se fechavam acabando por passar para a parte de dentro atirando-se de lado. Com uma respiração ofegante escostou-se em pé em frente á porta de saida. Os lugares sentados estavam todos ocupados e as pessoas olhavam-no como se tivessem visto um fantasma. {…} Sete paragens mais á frente saiu a correr e subia três degraus de cada vez e só cá fora é que olhara novamente para o telemovel que tinha as horas. Sabendo que ainda estava a 8 minutos a pé do trabalho e só tinha cerca de três minutos e alguns segundos seguio a correr a rua bastante inclinada mas o que mais lhe atrapalhava agora era a mala que trazia que começava a sentir algum peso e dar mau jeito. Usando as forças que lhe restavam virando algumas vezes para a esquerda e passando algumas ruas até ao fim e passar para as que se cruzavam sentiu-se desgastado e parou completamente sem forças. Já não faltava tudo e olhou novamente para as horas. Só tinha passado dois minutos e então sentiu uma nova esperança mas sabia que já não ia dar o mesmo rendimento. Seguio a correr como podia sem folego meio arrastado. Tinha ainda dois minutos de tolerância para não levar atraso e só usara apenas um o que fez com que chegasse a tempo. {…} O dia mal começava e já se sentia exausto. Começou a trabalhar com o estomago ainda vazio e com a garganta seca. {…} Os clientes levavam os seus problemas até ele e ficavam aparentamente solucionados. Mas de certo nem sobrara tempo para pensar nos seus. E fora assim durante as proximas oito horas. {…} Finalmente, algo de bom estaria prestes a acontecer. Este dia parecia nunca mais acabar e as primeiras horas foram um pouco dolorosas. No entanto ele sabia que os seus medos, os seus pesadelos, as suas inseguranças, os seus receios estariam perto de não fazer qualquer sentido. E tudo o que ele precisava estava ali. O seu abraço.

Anjo

1 Comments:

Blogger Lara said...

Lindo, tão lindo! =) Meu doce Anjo... sabes que terás sempre esse abraço para ti. E nem imaginas como é bom poder sentir os teus braços á volta de mim... sentir essa protecção que me concedes e essa segurança que te devolvo apenas com o calor dos meus braços e do meu coração.
@@@ beijinho docinho @@@

8:11 da tarde  

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